Colóquio
de Lembranças
Materializar
lembranças
—a cozinha...
Vidas apertadas,
Sentimento etéreo.
Corações aquecidos.
No arder das toras,
Labaredas bailavam.
Sombras coadjuvantes
Na parede caiada
Contracenavam com rendilhados picumãs
No ripado do telhado.
Braseiro carbonizando sonhos,
A água fervendo borbulhava esperança.
O Café passado, sinto o aroma
Como se fosse agora.
Café torrado e moído em casa
No antigo moinho de ferro,
Férreas lembranças da professora Elisa Starling;
Café passado na cafeteira,
Obra do latoeiro Zé Soares.
O passado presente em sentidos,
Degustado, olfatado.
Café solenizado, ritual corriqueiro.
À mesa, bule e canecos esmaltados,
Esmalte azul infinito,
Pouso dos meus sonhos.
Postular por Memória
Exumar
Positivações primeiras,
Ungir este esforço.
Arautos em transe
Aclarando os sentidos
Permeado de asfixia.
Postular por memória,
Avivar incômodos
E felizes lembranças
Do vivenciar
Em outeiros ascendentes.
Afiar o olhar!
Codificar temporalidades,
Banalidades cotidianas.
Adentrar o labirinto,
Apropriar-se do tesouro
Segredado na infância.
Virtuosa fantasia,
Atemporal sentido,
Carretéis, botões,
Bolinhas de gude,
Medalhinhas, alguns tostões.
Soldadinhos de chumbo
Que nunca foram possíveis.
E outros sonhos.
Epitáfios, epístolas que
nunca foram escritas.
Transladar inventário,
Inventariantes e inventariados
Anunciar a partilha
Circunstanciando epifanias.
Atavismo
O fogo-fátuo arde,
Consome o que resta,
Sentinelas orgânicas.
O terror sagrado espreita.
A magia do tempo permanece.
Revelações possíveis na alquimia da história?
Do branco,
Onde tudo era,
É possível de ser e ainda é?
Memória testamentária,
Exposta em um inimaginável encontro,
Permanece indecifrável.
A caravana passa,
Perfídia entre mercadores de história.
Nada averbado, confraria volatizada.
Volatizadas as minhas rotas vestes fidalgas.
Nudez exposta, o pudor me cobre?
Me perco neste atavismo.
Despojado de alfaias,
Sem travesseiro de macela
Onde repousar a memória.
O tempo passa...
Passa
Entre nuvens, perdido a contar carneiros.
O sagrado fogo-fátuo arde,
Combustão exorcizante.
Fogo avoengo, me unge e revivo.
Mesa Posta
É servido o café,
Quitandas...
A mesa posta,
Rostos graves,
Gravidade nos sentidos,
Palavras murmurantes.
Ranger de porta, silêncio...
As comadres trocam receitas.
A gata preta busca
O aconchego de um colo.
O cachorro Bala
Fareja fazendo festa,
Atravessa em disparada a sala.
Tímidos sorrisos escapam,
No fogão só restam cinzas,
Mas o aroma do café permanece.
Poesias fantásticas, prazerosa a leitura e nos remete a vários sentimentos. Parabéns Adorei!
ResponderExcluir