Elvécio Eustáquio da Silva
Nas
primeiras décadas do século XX, na cidade de Nova Era, as agremiações
carnavalescas eram denominadas de rancho, dinamizavam a vida social de então,
animados cordões pelas ruas do distrito, e cada um realizava o seu baile, com
destaque para o Esperança e para o Operário,
motivados pela concorrência entre eles. Mas sobre estes ranchos pouco
sabemos.
A mais antiga informação escrita
encontrada sobre o carnaval em Nova Era, está num livro, Canfora Uma História,
escrito por Maria Canfora, comemorativo do Centenário da chegada da Família
Canfora ao Brasil – 1897 a 1997. Neste livro, a passagem da família da autora
por Nova Era se encontra registrada em detalhes, com destaque para os festejos
carnavalescos que foram realizados nesta cidade no ano de 1921, quando ainda
São José da Lagoa era distrito de Itabira. Nas páginas 38 a 40, emocionantes
narrativas de uma grandiosa festa momesca idealizada e realizada pelo pai da
autora, o italiano Alfredo Canfora, que soube interagir com a comunidade para a
sua concretização. Entre os 11 filhos do Casal Alfredo Canfora e Isaura Donati,
Maria Canfora, primogênita, portanto guardiã da memória da família.
Para o conserto de uma ponte de
madeira que se encontrava com partes arruinadas por falta de manutenção,
Alfredo Canfora chegou a São José da Lagoa em 1918, vindo de Belo Horizonte,
onde residia juntamente com seus familiares. Esta ponte, de nome Dona Amélia,
tinha o comprimento de 118 metros. Em 1920 Alfredo transfere a sua família para
São José da Lagoa e muitas amizades fizeram neste distrito. Em conversa com o
empresário local Oscar de Araújo, Alfredo revelou ter atuado na montagem de
carros alegóricos para o carnaval em Belo Horizonte. Descreve Maria Canfora:
“na mesma hora os olhos do Sr. Oscar brilharam de satisfação e abrindo os
braços falou com alegria: Alfredo, vamos mostrar a este povo o que é carnaval!”
Alfredo que nunca sabia dizer não, topou na hora e, neste mesmo dia, começaram
a fazer os planos para a grande festa que seria o Carnaval de 1921. A notícia
correu não só aqui, mas em toda a região gerando grande expectativa. Muitas
ações criativas e laboriosas foram desenvolvidas, algumas em absoluto segredo.
“O teatrinho da cidade foi todo
preparado com rigor para a realização dos bailes e matinês que foram animados
pela Corporação Musical Flor de São José, comandada pelo maestro Alvim
Vitorino”. É nesse teatro que aconteciam diversificadas atividades
comunitárias, como também era lá que as Companhias Teatrais e de outras
categorias artísticas que circulavam nesta região se apresentavam, entre
outras, a Companhia Miramar.
A grande atração deste carnaval foi
o desfile dos carros alegóricos tendo à frente “uma cavalaria formada por
jovens da cidade montados em cavalos ornamentados”, a seguir alas de jovens
fantasiados.
“O primeiro carro alegórico era
formado por dois Cisnes Brancos puxando uma pequena carruagem... o seguinte era
um enorme avestruz... em seguida, a grande sensação: um elefante, enorme,...
Fechando o desfile vinha a maior sensação da noite: O Dragão! O corpo do animal
era todo coberto por escamas... À meia noite, uma grande surpresa! Os fogos de
artifício! Foi um espetáculo inesquecível!...”
Através de um criativo e divertido
boletim-convite tomamos conhecimento do carnaval aqui realizado em 1942, no já
então emancipado distrito de São José da Lagoa, que passou a denominar-se
Presidente Vargas. Anunciando bailes à fantasia e premiações diversas. Segundo
o referido documento, essa festa aconteceu no cine local, mas que se tratava do
mesmo teatrinho onde foram realizados os grandes bailes em 1921, que passou a
funcionar também como cinema. Informou ainda que a renda seria em benefício da
construção do hospital da cidade e não cita nomes da comissão organizadora.
A revista Caminhos Gerais, edição
especial Nova Era 3 séculos de história (nº 29 -março de 2012) , traz em sua
página nº 55 uma foto do carnaval de 1950, “foliões comercialinos, Ercy,
Matilde, Lídia, Maria do Realino e Marieta juntamente com o folião Epídio,
exibindo as famosas lança-perfumes douradas”. Nas décadas de 40 a70 do século
passado, foi que se consolidou em Nova Era o carnaval de rua e de salão. Época
em que as Agremiações Sociais e Esportivas se encontravam no auge, a exemplo: o
Automóvel Clube, o Comercial Futebol Clube, Minas Esporte Clube .
As referidas instituições, em clima de rivalidade,
promoviam concursos internos elegendo as suas rainhas e princesas, que com
brilhantismo desfilavam pelas principais ruas da cidade em carros ricamente
decorados, acompanhados por alas e em corso de alegres foliões fantasiados e
cada agremiação com o seu conjunto musical. Os Blocos independentes e grupos
irreverentes davam graça ao carnaval.
As batalhas de serpentinas confetes
e lança-perfumes, e os foliões fantasiados pelas ruas e bares também foram uma
das marcas dos carnavais do período citado. As instituições em foco entraram em
processo de decadência, os blocos em grande número foram diminuindo, e o prazer
de fantasiar-se nos dias de carnaval foi se acabando e as marchinhas e o samba
foram desaparecendo da cena carnavalesca.
O carnaval em Nova Era, e certamente
em muitas outras cidades mineiras, no decorrer de décadas, passou por várias
fases, cada uma com as suas características. Na década de 70 a década de 90 do
século passado, por influência dos meios de comunicação de massa, as Escolas de
Samba, expressão cultural do Rio de Janeiro, proliferam-se por todo o interior
do nosso Estado. A cidade de Nova Era passou a ter, anualmente, com direito a
Rei Momo e Rainha, desfiles luxuosos de 4(quatro) escolas: Grêmio Recreativo
Escola de Samba Acadêmicos do Manjahy, ex Princesinha do Morro, Desce Ladeira,
Acadêmicos do Sagrada Família e Unidos do Ladilá, que ano a ano se degradiavam
numa disputa equivocada.
O carnaval local ainda era
enriquecido com bailes, matinês, blocos e grupos fantasiados, por último surgiu
a Bandinha dos Farrapos fazendo grande sucesso, manifestações amplamente
registrada pela mídia local e regional.
Em 1994 as 4 escolas fizeram os seus
últimos desfiles, deixando um lastro de conflito, e ainda, algumas levaram como
troféu dívidas acumuladas, e assim saíram de cena. Como aqui, as Escolas de
Samba foram desaparecendo nas pequenas cidades do nosso estado.
Lideranças desmotivadas não tiveram
projetos nem apoio para combater uma nova ameaça a nossa identidade, as
expressões carnavalescas baianas, conectadas à indústria fonográfica e redes de
tevê, com grande poder de influência e sedução, como os trios elétricos, bandas
de Axé, em maioria meramente comercial sem nenhuma qualidade, mera banalização
cultural, entre outras manifestações colonizadoras, provocando prejuízo
identitário, anulando matrizes culturais e assim inibindo uma busca
alternativa.
O Carnaval MPB na Rua Governador
Valadares, que aqui é um diferencial permanece. Permanecendo também a Bandinha
dos Farrapos e alguns remanescentes do Bloco Boca de Gole em trajes femininos.
Os grupos fantasiados desapareceram e os bailes de salão já não tem sentido.
Novos tempos!
Não sabemos qual será a nova
intervenção da mídia em nossa cultura para os próximos carnavais. Não podemos
ficar na contramão da história, somos nós, nova-erenses, através de uma
política cultural adequada, que temos de definir o rumo dos nossos próximos carnavais.
2013
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