terça-feira, 14 de junho de 2016

Demarcação de Divisas


                                               Arquivo Público Mineiro -  Documento avulso

domingo, 12 de junho de 2016

Santo Antônio do Poço Grande — Comando de Ordenança



Por volta de 1808, a ordenança sediada em Santo Antônio do Poço Grande, Freguesia de São Miguel da Vila Nova da Rainha, Comarca de Sabará, era comandada pelo Alferes Francisco de Paula Rodrigues Silva, subordinado ao Regimento do Capitão –mor Felício Moniz Pinto Coelho da Cunha. Era constituída por 4 sargentos, 4 cabos de Esquadra, 50 oficiais estabelecidos, brancos e pardos, e uma Esquadra do Mato. Tal efetivo fazia o seu patrulhamento regional de rotina para manter a ordem e atender a casos específicos quando necessário.

Fonte: Documento avulso – Arquivo Público Mineiro-BH

segunda-feira, 6 de junho de 2016

REMINISCÊNCIAS DAS PARAGENS DE SÃO JOSÉ DA LAGOA

                                                                                                                       Elvécio Eustáquio da Silva

                “Manoel Monteiro Chacim, que percorreu os Sertões do Rio Doce em companhia de Sebastião Pinto Cabral, pelos anos de 1746, casou-se em São Paulo com Catharina de Godoy Moreira, filha de Gaspar de Godoy Moreira e de sua primeira mulher Custódia Moreira. Viveu e faleceu em seu estabelecimento, na Capela de Santo Antônio do Porto Real, Freguesia de São Miguel, termo da Vila de Caethé”.

                                                                                                                            

                “Em fins do século XVIII, nas paragens da Cachoeira Comprida, freguesia de São Miguel (do Piracicaba), termo da Vila de Caeté, estabeleceram Joaquim de Godoy Moreira, que lá faleceu solteiro no seu engenho, em companhia de seus irmãos e sócios João Bicudo de Brito e Manoel Monteiro Chassim”, cujos progenitores, Manoel Monteiro Chacim e Catharina de Godoy Moreira, viveram na localidade de Santo Antônio do Porto Real, que era conhecida também como Santo Antônio do Poço Grande. O referido engenho/fazenda da Cachoeira Comprida permanece e se localiza na margem esquerda do Rio Piracicaba.
Para saber mais:
Leme, Pedro Taques de Almeida Paes
Nobiliarquia Paulistana
História e Genealogia
Tomo II – Pág. 145 a 171 – 5ª edição
Editora Itatiaia/EDUSP/BH – 1980.

                                                        Cachoeira Comprida, foto 2008
COMENTÁRIOS
                                                                                                                            
                Do “engenho nas paragens da Cachoeira Comprida” referido no texto acima pelo autor Pedro Leme, dele permanece a sede, com a popular denominação Fazenda de Sô Amador. Região que passou a ser conhecida genericamente com o nome “Pedra Furada de Cima” (município de Nova Era). Esta sede, com o passar do tempo, foi se descaracterizando, sendo mutilada em seu volume arquitetônico original, e o que dela restou se encontra em péssimo estado de conservação.
                Do “engenho” nem mesmo vestígios, como também desapareceram as demais construções outrora integrantes da sede. A Cachoeira que dá nome a região, um dos referenciais geográficos, nos tempos primeiros de aventura em busca do ouro está situada na localidade que se denomina Taquary, que não mais pertence ao município de Nova Era, e sim do de Bela Vista de Minas.
                No texto em discurso, não há referência à aquisição do “engenho” pelo padre José Álvares Ferreira Cabral, que em testamento datado a 25-10-1830, deixa aos seus “universais herdeiros: escravos, uma fazenda Cachoeira Comprida com engenho de bois, cobres, gado e tudo o mais que tiver o nome meu”.
                A título de curiosidade, esse padre “tinha o olho direito vasado por um tiro de espingarda chumbeira, involuntariamente dado por um desconhecido, Este acidente acontecera por perto de Antônio Dias Abaixo, quando, por ali passavam ele e seu pai, residentes no antigo São José da Lagoa, no fim da década de 1780”. Pedro Maciel Vidigal, Os Antepassados, Volume II – página 1.249.
                Informo ainda que em terras da aludida fazenda permanecem marcas de vultuosos serviços de mineração, mesmo coberta por vegetação, depressões podem ser vistas, principalmente na baixada onde corre o rio Piracicaba. E que a dita fazenda da Cachoeira Comprida ou do Sô Amador, se encontra situada entre o local onde existia uma antiga estação ferroviária e um pontilhão de ferro que permanece.

Estação da Pedra Furada/foto da década de 1970

                                                        Pontilhão, em foto de 2008


                                                                                              Maio/2016


                               FAZENDA DA CACHOEIRA COMPRIDA
                                                                                                                            
                Através de referências testamentárias, de 25 de Outubro de 1830, tomamos conhecimento de que o Padre José Álvares Ferreira Cabral, natural de Guarapiranga foi proprietário da Fazenda Cachoeira Comprida, na aplicação de São José da Lagoa.
                Constatamos que o referido Padre não foi sesmeiro em nossa região, portanto, ele comprou essa propriedade dos seus primeiros donos, certamente, pioneiros no desbravamento dessas paragens, Joaquim Godoy Moreira, João Bicudo de Brito, Manoel Monteiro Chassin Filho. Ou foi uma aquisição feita pelo seu pai Dr. José Álvares Ferreira Cabral, a qual lhe foi repassada como doação para constituir o seu patrimônio, conforme as exigências das leis eclesiásticas, em vigor na época a todos os pretendentes ao sacerdócio católico. Informo ainda que o Dr. José Álvares, se encontrando viúvo ordenou-se sacerdócio.
               
                                                                                             Foto de 2008

DR. JOSÉ ÁLVARES FERREIRA CABRAL
                                                                                                                            

                Dr. José Álvares Ferreira Cabral, juntamente com a sua esposa, Catarina Nunes do Rosário, viveram no distrito de Calambau e nele criaram os seus filhos. Enviuvou no dia 11-07-1787, segundo Pedro Maciel Vidigal, e após esse fato, juntamente com a sua filha Maria do Carmo, vieram passar uma temporada no arraial de São José da Lagoa, onde já residia a sua filha Luciana Pulquéria que se casou com Antônio José da Costa, proprietário da Sesmaria da Barra do Rio das Cobras – Barra do Prata, e sua sobrinha Cecília Bernarda Rosa de São Boaventura, casada com Custódio Martins da Costa, proprietário da Sesmaria da Figueira.
                “No dia 28 de Março de 1789, em Mariana, recebeu “Ordem do Presbiterato”, e no dia 24 de abril do mesmo ano, teve provisão para a sua primeira missa, que foi celebrada em Calambau.
                No dia 04 de maio, o padre Dr. José Álvares, presidiu a celebração religiosa do casamento de sua filha Maria do Carmo com Manuel Martins da Costa Filho, na Capela de São José da Lagoa. Em 1804, era Vigário da Vara de Vila Rica onde faleceu.
                Para saber mais:
                Maciel, Vidigal, Pedro Maciel, Os Antepassados
                Volume II – Tomo 2 – 2ª Parte.
                Página 1.248 a 1.252, 1980
                Imprensa Oficial – BH.


                               CIRCUITO DOS NOIVOS
                               NOVA ERA A PRESIDENTE BERNARDES                                

                “Os irmãos Martins da Costa (Custódio, Manuel e Antônio), do antigo São José da Lagoa (hoje, cidade de Nova Era) passando por São Domingos do Rio da Prata, Nossa Senhora da Saúde (Dom Silvério), São Sebastião da Ponte Nova, Sant’Ana de Ferros (Guaraciaba), Porto Seguro da Tapera (Porto Firme), chegaram, a cavalo, até Santo Antônio do Calambau (hoje, cidade de Presidente Bernardes) a fim de conhecerem as moças da família Ferreira Cabral da Câmara (Cecília, Maria do Carmo e Luciana), com os quais se casariam”.
Vidigal, Pedro Maciel, Os Antepassados
Volume II – Tomo 1º - página 63 –
1980 - Imprensa Oficial – BH.



                O objetivo da divulgação do texto acima é chamar a atenção do percurso de Nova Era a Presidente Bernardo, que no século XVIII foi percorrido a cavalo pelos referidos irmãos Martins da Costa, que é um explícito roteiro turístico. A meu ver, seria oportuno ele ser institucionalizado como circuito turístico. Quem sabe, não seria também um bom roteiro para a realização de cavalgadas?
                É oportuno salientar a ousadia dos irmãos Martins da Costa, pois não era comum no século XVIII, rapazes conhecerem pessoalmente, com antecedência as moças com quem viriam se casar, principalmente sem a companhia de seus pais.
                Os casamentos eram tratados através da diplomacia paterna, e o compromisso era selado, e os noivos quando moravam em localidades distintas, geralmente encontravam-se pela primeira vez nas vésperas do casamento, mesmo morando no mesmo lugar não tinham a liberdade de conviverem. Quase sempre era a noiva, juntamente com os seus familiares, que se deslocavam para a localidade onde o noivo vivia para a realização da Cerimônia religiosa que viria oficializar a pretendida união.
                Informo ainda que o intercâmbio de São José da Lagoa com Santo Antônio do Calambau permaneceu do século XVIII ao século XX, principalmente o amoroso.
                A exemplo, aos 16 de março de 1965, Nova Era foi palco, com muita mídia da união civil do Calambauense Padre Pedro Maciel Vidigal e da Nova-erense Ruth Guerra.



SANTO ANTONIO DO PORTO REAL OU SANTO ANTONIO DO POÇO GRANDE


                No passado da referida localidade na margem direita do rio Piracicaba, próxima da barra do rio Piracicaba com o rio Santa Bárbara permanece o seu antigo nome, Santo Antônio e uma pia batismal que se encontra no Museu da Inconfidência em Ouro Preto.
                Em visita a este sítio já há alguns anos, fui ao encontro do Senhor José Guerra, um dos poucos moradores do lugar. Em prosa, logo percebi que a oralidade ainda mantinha algumas narrativas, me surpreendendo com a pergunta: você já ouviu falar em tecido adamascado? Eu lhe respondi que sim, e que conhecia esse tipo de tecido. Indagando-lhe o porquê da pergunta, em seguida ele me respondeu: “o meu pai sabia muitas histórias sobre esse lugar, ele contava que os avós dele contavam, que os bisavós contavam, quando era celebrada uma missa aqui, um grande trecho era todo atapetado com colchas de tecido adamascado para a passagem do cortejo dos senhores da Casa Grande e Comitiva até a Capela de Santo Antônio”.
                “E que o sol batendo nas colchas, elas ficavam resplandecentes”, ele conclui com encantamento. Em seguida me conduziu ao local onde ficava o alicerce da Capela e o Cemitério, lamentando que a Cenibra não teve respeito, destruiu tudo com terraplenagem para a montagem de um acampamento, que funcionou por poucos anos e logo foi desativado.
                Por uma outra fonte oral, tomei conhecimento de que os senhores de Santo Antônio do Porto Real, quando vinham a São José da Lagoa eram recebidos com distinção, considerados fidalgos.
                Por que uma localidade como essa, onde, no passado, existiu um próspero e respeitado arraial, chegando a abrigar mais de “400 almas”, simplesmente deixou de existir?
                Santo Antônio do Porto Real, em seus primórdios, certamente pertenceu a Santa Bárbara e a Rio Piracicaba.
                Posteriormente a São José da Lagoa, subordinação administrativa que permaneceu mesmo após a emancipação política deste distrito ocorrida em 1938. Com a criação do município, Bela Vista de Minas, na década de 60 do século XX, esta localidade foi anexada ao mesmo.
                Para saber mais:
                Vidigal, Pedro Maciel
                Amador Bueno O Aclamado, pp 141 a 142
                Na Família Lagoana.1945 –

                Imprensa Nacional – Rio de Janeiro.

domingo, 5 de junho de 2016

4 poemas de Elvécio (2009)

                     Colóquio de Lembranças

            Materializar lembranças
         —a cozinha...
         Vidas apertadas,
         Sentimento etéreo.
         Corações aquecidos.

         No arder das toras,
         Labaredas bailavam.
         Sombras coadjuvantes
         Na parede caiada
         Contracenavam com rendilhados picumãs
         No ripado do telhado.

         Braseiro carbonizando sonhos,
         A água fervendo borbulhava esperança.
         O Café passado, sinto o aroma
         Como se fosse agora.

         Café torrado e moído em casa
          No antigo moinho de ferro,
         Férreas lembranças da professora Elisa Starling;
         Café passado na cafeteira,
         Obra do latoeiro Zé Soares.

         O passado presente em sentidos,
         Degustado, olfatado.
         Café solenizado, ritual corriqueiro.
         À mesa, bule e canecos esmaltados,
         Esmalte azul infinito,
         Pouso dos meus sonhos.
        



                   Postular por Memória

         Exumar
         Positivações primeiras,
         Ungir este esforço.
         Arautos em transe
         Aclarando os sentidos
         Permeado de asfixia.

         Postular por memória,
         Avivar incômodos
         E felizes lembranças
         Do vivenciar
         Em outeiros ascendentes.

         Afiar o olhar!
         Codificar temporalidades,
         Banalidades cotidianas.
         Adentrar o labirinto,
         Apropriar-se do tesouro
         Segredado na infância.
         Virtuosa fantasia,
         Atemporal sentido,
         Carretéis, botões,
         Bolinhas de gude,
         Medalhinhas, alguns tostões.
         Soldadinhos de chumbo
         Que nunca foram possíveis.
         E outros sonhos.
         Epitáfios, epístolas que
         nunca foram escritas.
         Transladar inventário,
         Inventariantes e inventariados
         Anunciar a partilha
         Circunstanciando epifanias.
        
                   Atavismo

         O fogo-fátuo arde,
         Consome o que resta,
         Sentinelas orgânicas.

         O terror sagrado espreita.
         A magia do tempo permanece.
         Revelações possíveis na alquimia da história?

         Do branco,
         Onde tudo era,
         É possível de ser e ainda é?

         Memória testamentária,
         Exposta em um inimaginável encontro,
         Permanece indecifrável.
         A caravana passa,
         Perfídia entre mercadores de história.
         Nada averbado, confraria volatizada.
         Volatizadas as minhas rotas vestes fidalgas.
         Nudez exposta, o pudor me cobre?
         Me perco neste atavismo.

         Despojado de alfaias,
         Sem travesseiro de macela
         Onde repousar a memória.

         O tempo passa...
         Passa
         Entre nuvens, perdido a contar carneiros.
         O sagrado fogo-fátuo arde,
         Combustão exorcizante.
         Fogo avoengo, me unge e revivo.




                   Mesa Posta

         É servido o café,
         Quitandas...
         A mesa posta,
         Rostos graves,
         Gravidade nos sentidos,
         Palavras murmurantes.
         Ranger de porta, silêncio...
         As comadres trocam receitas.
         A gata preta busca
         O aconchego de um colo.
         O cachorro Bala
         Fareja fazendo festa,
         Atravessa em disparada a sala.
         Tímidos sorrisos escapam,
         No fogão só restam cinzas,
         Mas o aroma do café permanece.