quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Olaria em São José da Lagoa

Não sabemos com precisão quando essa Olaria foi instalada aqui em Nova Era, nem quando deixou de funcionar. Possivelmente, entre as décadas de 10 e 20 do século passado e se localizava na “Várzea dos Pimentas”, hoje Desembargador Drumond.

Montada com máquinas modernas, importadas, a olaria foi obra de um visionário filho da terra, José Custódio Martins Quintão, vulgo Zé Quintão.

Produtos da Olaria

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Visões transbordantes


Liturgia das flores
E velas no columbário
Alforriando fantasmas:
Visões transbordantes
Em minhas retinas dardejadas.
Das frestas procuro
A trilha dos poetas
Sem encontrá-la.
No caminho, elefantes.
Pelos telhados, felinos fazem amor.
Musas copresentes iniciam
neófitos ao encantamento.
O mote é a ambiguidade,
O locus sagrado, não alcançado,
Se perde no horizonte.
Ainda se ouve amiúde
O torvelinho algoz,
Fora do espaço e do tempo.
Batem aldravas — portas não se abrem.
Pombos em revoada.
No locutório da praça,
Políticos se verbalizam
Enquanto o brilho das estátuas
Se corrói.


segunda-feira, 11 de julho de 2016

Fazenda Mãe d’água ou Cachoeira

A sede dessa fazenda construída num altiplano, próxima ao local onde existia uma estação ferroviária da Pedra Furada de Cima, lá permanece.
Sua arquitetura despojada era comum no meio rural, em meados do século XIX, na região.
Nela viveu Joaquim Caetano de Souza Lage, juntamente com sua mulher, Maria Raimunda de Souza e os filhos.
Joaquim era filho de Manuel Caetano de Souza e Tereza Maria da Costa Lage. Certamente, seu pai foi o primeiro proprietário da fazenda. Joaquim Caetano de Souza Lage faleceu em 29 de dezembro de 1935, aos 83 anos.
Para saber mais: Cartório do Segundo Ofício, Comarca de Nova Era, Livro de Notas nº 7. Folhas nº 17, verso a 18, verso. Translado de Escritura Pública de Permuta. Caixa nº 5, Anexo de processo nº 110. Arquivo do Fórum/Comarca de Nova Era.


Fazenda Mãe d'água                                                Queda d'água na estrada de acesso à fazenda

terça-feira, 14 de junho de 2016

Demarcação de Divisas


                                               Arquivo Público Mineiro -  Documento avulso

domingo, 12 de junho de 2016

Santo Antônio do Poço Grande — Comando de Ordenança



Por volta de 1808, a ordenança sediada em Santo Antônio do Poço Grande, Freguesia de São Miguel da Vila Nova da Rainha, Comarca de Sabará, era comandada pelo Alferes Francisco de Paula Rodrigues Silva, subordinado ao Regimento do Capitão –mor Felício Moniz Pinto Coelho da Cunha. Era constituída por 4 sargentos, 4 cabos de Esquadra, 50 oficiais estabelecidos, brancos e pardos, e uma Esquadra do Mato. Tal efetivo fazia o seu patrulhamento regional de rotina para manter a ordem e atender a casos específicos quando necessário.

Fonte: Documento avulso – Arquivo Público Mineiro-BH

segunda-feira, 6 de junho de 2016

REMINISCÊNCIAS DAS PARAGENS DE SÃO JOSÉ DA LAGOA

                                                                                                                       Elvécio Eustáquio da Silva

                “Manoel Monteiro Chacim, que percorreu os Sertões do Rio Doce em companhia de Sebastião Pinto Cabral, pelos anos de 1746, casou-se em São Paulo com Catharina de Godoy Moreira, filha de Gaspar de Godoy Moreira e de sua primeira mulher Custódia Moreira. Viveu e faleceu em seu estabelecimento, na Capela de Santo Antônio do Porto Real, Freguesia de São Miguel, termo da Vila de Caethé”.

                                                                                                                            

                “Em fins do século XVIII, nas paragens da Cachoeira Comprida, freguesia de São Miguel (do Piracicaba), termo da Vila de Caeté, estabeleceram Joaquim de Godoy Moreira, que lá faleceu solteiro no seu engenho, em companhia de seus irmãos e sócios João Bicudo de Brito e Manoel Monteiro Chassim”, cujos progenitores, Manoel Monteiro Chacim e Catharina de Godoy Moreira, viveram na localidade de Santo Antônio do Porto Real, que era conhecida também como Santo Antônio do Poço Grande. O referido engenho/fazenda da Cachoeira Comprida permanece e se localiza na margem esquerda do Rio Piracicaba.
Para saber mais:
Leme, Pedro Taques de Almeida Paes
Nobiliarquia Paulistana
História e Genealogia
Tomo II – Pág. 145 a 171 – 5ª edição
Editora Itatiaia/EDUSP/BH – 1980.

                                                        Cachoeira Comprida, foto 2008
COMENTÁRIOS
                                                                                                                            
                Do “engenho nas paragens da Cachoeira Comprida” referido no texto acima pelo autor Pedro Leme, dele permanece a sede, com a popular denominação Fazenda de Sô Amador. Região que passou a ser conhecida genericamente com o nome “Pedra Furada de Cima” (município de Nova Era). Esta sede, com o passar do tempo, foi se descaracterizando, sendo mutilada em seu volume arquitetônico original, e o que dela restou se encontra em péssimo estado de conservação.
                Do “engenho” nem mesmo vestígios, como também desapareceram as demais construções outrora integrantes da sede. A Cachoeira que dá nome a região, um dos referenciais geográficos, nos tempos primeiros de aventura em busca do ouro está situada na localidade que se denomina Taquary, que não mais pertence ao município de Nova Era, e sim do de Bela Vista de Minas.
                No texto em discurso, não há referência à aquisição do “engenho” pelo padre José Álvares Ferreira Cabral, que em testamento datado a 25-10-1830, deixa aos seus “universais herdeiros: escravos, uma fazenda Cachoeira Comprida com engenho de bois, cobres, gado e tudo o mais que tiver o nome meu”.
                A título de curiosidade, esse padre “tinha o olho direito vasado por um tiro de espingarda chumbeira, involuntariamente dado por um desconhecido, Este acidente acontecera por perto de Antônio Dias Abaixo, quando, por ali passavam ele e seu pai, residentes no antigo São José da Lagoa, no fim da década de 1780”. Pedro Maciel Vidigal, Os Antepassados, Volume II – página 1.249.
                Informo ainda que em terras da aludida fazenda permanecem marcas de vultuosos serviços de mineração, mesmo coberta por vegetação, depressões podem ser vistas, principalmente na baixada onde corre o rio Piracicaba. E que a dita fazenda da Cachoeira Comprida ou do Sô Amador, se encontra situada entre o local onde existia uma antiga estação ferroviária e um pontilhão de ferro que permanece.

Estação da Pedra Furada/foto da década de 1970

                                                        Pontilhão, em foto de 2008


                                                                                              Maio/2016


                               FAZENDA DA CACHOEIRA COMPRIDA
                                                                                                                            
                Através de referências testamentárias, de 25 de Outubro de 1830, tomamos conhecimento de que o Padre José Álvares Ferreira Cabral, natural de Guarapiranga foi proprietário da Fazenda Cachoeira Comprida, na aplicação de São José da Lagoa.
                Constatamos que o referido Padre não foi sesmeiro em nossa região, portanto, ele comprou essa propriedade dos seus primeiros donos, certamente, pioneiros no desbravamento dessas paragens, Joaquim Godoy Moreira, João Bicudo de Brito, Manoel Monteiro Chassin Filho. Ou foi uma aquisição feita pelo seu pai Dr. José Álvares Ferreira Cabral, a qual lhe foi repassada como doação para constituir o seu patrimônio, conforme as exigências das leis eclesiásticas, em vigor na época a todos os pretendentes ao sacerdócio católico. Informo ainda que o Dr. José Álvares, se encontrando viúvo ordenou-se sacerdócio.
               
                                                                                             Foto de 2008

DR. JOSÉ ÁLVARES FERREIRA CABRAL
                                                                                                                            

                Dr. José Álvares Ferreira Cabral, juntamente com a sua esposa, Catarina Nunes do Rosário, viveram no distrito de Calambau e nele criaram os seus filhos. Enviuvou no dia 11-07-1787, segundo Pedro Maciel Vidigal, e após esse fato, juntamente com a sua filha Maria do Carmo, vieram passar uma temporada no arraial de São José da Lagoa, onde já residia a sua filha Luciana Pulquéria que se casou com Antônio José da Costa, proprietário da Sesmaria da Barra do Rio das Cobras – Barra do Prata, e sua sobrinha Cecília Bernarda Rosa de São Boaventura, casada com Custódio Martins da Costa, proprietário da Sesmaria da Figueira.
                “No dia 28 de Março de 1789, em Mariana, recebeu “Ordem do Presbiterato”, e no dia 24 de abril do mesmo ano, teve provisão para a sua primeira missa, que foi celebrada em Calambau.
                No dia 04 de maio, o padre Dr. José Álvares, presidiu a celebração religiosa do casamento de sua filha Maria do Carmo com Manuel Martins da Costa Filho, na Capela de São José da Lagoa. Em 1804, era Vigário da Vara de Vila Rica onde faleceu.
                Para saber mais:
                Maciel, Vidigal, Pedro Maciel, Os Antepassados
                Volume II – Tomo 2 – 2ª Parte.
                Página 1.248 a 1.252, 1980
                Imprensa Oficial – BH.


                               CIRCUITO DOS NOIVOS
                               NOVA ERA A PRESIDENTE BERNARDES                                

                “Os irmãos Martins da Costa (Custódio, Manuel e Antônio), do antigo São José da Lagoa (hoje, cidade de Nova Era) passando por São Domingos do Rio da Prata, Nossa Senhora da Saúde (Dom Silvério), São Sebastião da Ponte Nova, Sant’Ana de Ferros (Guaraciaba), Porto Seguro da Tapera (Porto Firme), chegaram, a cavalo, até Santo Antônio do Calambau (hoje, cidade de Presidente Bernardes) a fim de conhecerem as moças da família Ferreira Cabral da Câmara (Cecília, Maria do Carmo e Luciana), com os quais se casariam”.
Vidigal, Pedro Maciel, Os Antepassados
Volume II – Tomo 1º - página 63 –
1980 - Imprensa Oficial – BH.



                O objetivo da divulgação do texto acima é chamar a atenção do percurso de Nova Era a Presidente Bernardo, que no século XVIII foi percorrido a cavalo pelos referidos irmãos Martins da Costa, que é um explícito roteiro turístico. A meu ver, seria oportuno ele ser institucionalizado como circuito turístico. Quem sabe, não seria também um bom roteiro para a realização de cavalgadas?
                É oportuno salientar a ousadia dos irmãos Martins da Costa, pois não era comum no século XVIII, rapazes conhecerem pessoalmente, com antecedência as moças com quem viriam se casar, principalmente sem a companhia de seus pais.
                Os casamentos eram tratados através da diplomacia paterna, e o compromisso era selado, e os noivos quando moravam em localidades distintas, geralmente encontravam-se pela primeira vez nas vésperas do casamento, mesmo morando no mesmo lugar não tinham a liberdade de conviverem. Quase sempre era a noiva, juntamente com os seus familiares, que se deslocavam para a localidade onde o noivo vivia para a realização da Cerimônia religiosa que viria oficializar a pretendida união.
                Informo ainda que o intercâmbio de São José da Lagoa com Santo Antônio do Calambau permaneceu do século XVIII ao século XX, principalmente o amoroso.
                A exemplo, aos 16 de março de 1965, Nova Era foi palco, com muita mídia da união civil do Calambauense Padre Pedro Maciel Vidigal e da Nova-erense Ruth Guerra.



SANTO ANTONIO DO PORTO REAL OU SANTO ANTONIO DO POÇO GRANDE


                No passado da referida localidade na margem direita do rio Piracicaba, próxima da barra do rio Piracicaba com o rio Santa Bárbara permanece o seu antigo nome, Santo Antônio e uma pia batismal que se encontra no Museu da Inconfidência em Ouro Preto.
                Em visita a este sítio já há alguns anos, fui ao encontro do Senhor José Guerra, um dos poucos moradores do lugar. Em prosa, logo percebi que a oralidade ainda mantinha algumas narrativas, me surpreendendo com a pergunta: você já ouviu falar em tecido adamascado? Eu lhe respondi que sim, e que conhecia esse tipo de tecido. Indagando-lhe o porquê da pergunta, em seguida ele me respondeu: “o meu pai sabia muitas histórias sobre esse lugar, ele contava que os avós dele contavam, que os bisavós contavam, quando era celebrada uma missa aqui, um grande trecho era todo atapetado com colchas de tecido adamascado para a passagem do cortejo dos senhores da Casa Grande e Comitiva até a Capela de Santo Antônio”.
                “E que o sol batendo nas colchas, elas ficavam resplandecentes”, ele conclui com encantamento. Em seguida me conduziu ao local onde ficava o alicerce da Capela e o Cemitério, lamentando que a Cenibra não teve respeito, destruiu tudo com terraplenagem para a montagem de um acampamento, que funcionou por poucos anos e logo foi desativado.
                Por uma outra fonte oral, tomei conhecimento de que os senhores de Santo Antônio do Porto Real, quando vinham a São José da Lagoa eram recebidos com distinção, considerados fidalgos.
                Por que uma localidade como essa, onde, no passado, existiu um próspero e respeitado arraial, chegando a abrigar mais de “400 almas”, simplesmente deixou de existir?
                Santo Antônio do Porto Real, em seus primórdios, certamente pertenceu a Santa Bárbara e a Rio Piracicaba.
                Posteriormente a São José da Lagoa, subordinação administrativa que permaneceu mesmo após a emancipação política deste distrito ocorrida em 1938. Com a criação do município, Bela Vista de Minas, na década de 60 do século XX, esta localidade foi anexada ao mesmo.
                Para saber mais:
                Vidigal, Pedro Maciel
                Amador Bueno O Aclamado, pp 141 a 142
                Na Família Lagoana.1945 –

                Imprensa Nacional – Rio de Janeiro.

domingo, 5 de junho de 2016

4 poemas de Elvécio (2009)

                     Colóquio de Lembranças

            Materializar lembranças
         —a cozinha...
         Vidas apertadas,
         Sentimento etéreo.
         Corações aquecidos.

         No arder das toras,
         Labaredas bailavam.
         Sombras coadjuvantes
         Na parede caiada
         Contracenavam com rendilhados picumãs
         No ripado do telhado.

         Braseiro carbonizando sonhos,
         A água fervendo borbulhava esperança.
         O Café passado, sinto o aroma
         Como se fosse agora.

         Café torrado e moído em casa
          No antigo moinho de ferro,
         Férreas lembranças da professora Elisa Starling;
         Café passado na cafeteira,
         Obra do latoeiro Zé Soares.

         O passado presente em sentidos,
         Degustado, olfatado.
         Café solenizado, ritual corriqueiro.
         À mesa, bule e canecos esmaltados,
         Esmalte azul infinito,
         Pouso dos meus sonhos.
        



                   Postular por Memória

         Exumar
         Positivações primeiras,
         Ungir este esforço.
         Arautos em transe
         Aclarando os sentidos
         Permeado de asfixia.

         Postular por memória,
         Avivar incômodos
         E felizes lembranças
         Do vivenciar
         Em outeiros ascendentes.

         Afiar o olhar!
         Codificar temporalidades,
         Banalidades cotidianas.
         Adentrar o labirinto,
         Apropriar-se do tesouro
         Segredado na infância.
         Virtuosa fantasia,
         Atemporal sentido,
         Carretéis, botões,
         Bolinhas de gude,
         Medalhinhas, alguns tostões.
         Soldadinhos de chumbo
         Que nunca foram possíveis.
         E outros sonhos.
         Epitáfios, epístolas que
         nunca foram escritas.
         Transladar inventário,
         Inventariantes e inventariados
         Anunciar a partilha
         Circunstanciando epifanias.
        
                   Atavismo

         O fogo-fátuo arde,
         Consome o que resta,
         Sentinelas orgânicas.

         O terror sagrado espreita.
         A magia do tempo permanece.
         Revelações possíveis na alquimia da história?

         Do branco,
         Onde tudo era,
         É possível de ser e ainda é?

         Memória testamentária,
         Exposta em um inimaginável encontro,
         Permanece indecifrável.
         A caravana passa,
         Perfídia entre mercadores de história.
         Nada averbado, confraria volatizada.
         Volatizadas as minhas rotas vestes fidalgas.
         Nudez exposta, o pudor me cobre?
         Me perco neste atavismo.

         Despojado de alfaias,
         Sem travesseiro de macela
         Onde repousar a memória.

         O tempo passa...
         Passa
         Entre nuvens, perdido a contar carneiros.
         O sagrado fogo-fátuo arde,
         Combustão exorcizante.
         Fogo avoengo, me unge e revivo.




                   Mesa Posta

         É servido o café,
         Quitandas...
         A mesa posta,
         Rostos graves,
         Gravidade nos sentidos,
         Palavras murmurantes.
         Ranger de porta, silêncio...
         As comadres trocam receitas.
         A gata preta busca
         O aconchego de um colo.
         O cachorro Bala
         Fareja fazendo festa,
         Atravessa em disparada a sala.
         Tímidos sorrisos escapam,
         No fogão só restam cinzas,
         Mas o aroma do café permanece.


         

domingo, 15 de maio de 2016

A afirmação de uma identidade cultural.


                                                      Elvécio Eustáquio da Silva

Sou mineiro, de Nova Era. A cidade nutre meu espírito, contribui para me definir e fertilizar minha imaginação.
Minha relação com minha cidade é de fruição mágica, cumplicidade e comprometimento. E assim vou captando um pouco de sua forma, de seus atrativos e de seus problemas, sem a pretensão de conhecê-la por completo.
Ah, como procuramos aquele céu, aquela paisagem, a terra prometida, o Eldorado onde tudo se resolverá, tudo passará a ter sentido. No entanto, a procura é sempre vã.
Precisamos encontrar a cidade de nossos sonhos aqui mesmo, a partir do que a cidade nos oferece: sua ancestralidade, que é nossa ancestralidade, sua paisagem e seus problemas.
Temos de deixar de viver como eternos assistidos. Apesar de nosso município ser pequeno, precisamos nos esforçar ao máximo para assumir seu destino, redescobrindo e reafirmando nossa crença na vitalidade de nosso passado e de nossa cultura, para assim desenvolvermos, com identidade, nossa visão, nossa expressão e nossa imaginação, caminhando para um despertar cultural inspirado, estimulado e conduzido por nosso povo, não se detendo nas fronteiras artificiais traçadas pelos burocratas, por excludentes e perversos sistemas políticos, administrativos e econômicos. Para mim, esse despertar será a sinalização de que nos libertamos e começamos a encontrar nossa razão de ser.

Salve Nova Era!

sexta-feira, 8 de abril de 2016

SÃO JOSÉ DA LAGOA NO CONTEXTO DO PROCESSO HISTÓRICO

SÃO JOSÉ DA LAGOA NO CONTEXTO DO PROCESSO HISTÓRICO
                                                                                                              Elvécio Eustáquio da Silva

“É antiquíssima a habitação deste distrito, que tem sua história ligada a todas as explorações de ouro do Vale do Piracicaba, mas não resta memória de onde lhe tenham vindo os primeiros habitantes, se águas acima ou abaixo. Foi povoado em consequência da mineração, e os montões de cascalhos que ali em todas as terras baixas se encontram, mesmo nas ruas do povoado, provam grandes e poderosos serviços mantidos por muitos anos. É de crer que esses serviços fossem ainda anteriores aos da Serra de Itabira, a aceitarmos a entrada dos bandeirantes pelo Piracicaba, onde termina o Rio do Peixe, que corre a 3 km da cidade – O documento mais antigo que conheço a seu respeito é o título de patrimônio legado ao Orago da Capela, que é hoje Matriz. É dos princípios do século XVIII, mas já refere-se à população como existente e já havia muitas roças, das quais uma foi comprada e doada ao Santo. Por esse documento vê se que nos princípios de 1700 já havia povoado e muita cultura e, por conseguinte que os moradores, esgotada a mineração ‘casqueira’ de talho aberto, ao menos a conhecida, e talvez desanimados com as péas legais dessa indústria, se entregassem à cultura, sendo as terras ubérrimas, abandonando a idolatria do bezerro de ouro.”
                                    (R.A.P.M; Ano III; 1898; pag.347)

A historiografia do fim do século XIX e das primeiras décadas do século XX revela um pouco dos primórdios da história do município de Nova Era. Historiadores, entre outros Padre Júlio Engrácia (monografia – Revista do Arquivo Público Mineiro – 1898), Alfredo Moreira Pinto (Apontamentos para o Dicionários Geográfico do Brasil – 1899), Padre Pedro M. Vidigal (Monografia datilografada “Da Fundação até a Proclamação da República” – 1939; “Amador Bueno – O Aclamado na Família Lagoana – 1945 – Imprensa Nacional) e Pedro E. Vallim (Álbum dos Municípios do Estado de Minas Gerais – 1º Volume – 1941) são unânimes em referir que é antiguíssimo o povoamento desta terra, com serviços de mineração anteriores aos da Serra de Itabira, e que nos princípios de 1700 já havia povoado com Capela e com muita cultura. O historiador Pedro E. Vallim chega a ser afirmativo ao dizer que estas terras foram, inicialmente, povoadas em uma época que remonta possivelmente a 1700.
A unanimidade dos historiadores citados atesta que o nosso município tem uma trajetória tricentenária, lastreada por uma aventura aurífera que perdurou através de faiscadores até os primórdios do século XX, referindo-se também aos “montões de cascalhos”. O Padre Júlio Engrácia refere-se a “montões de cascalho lavados que surgiram em consequência dos poderosos serviços de mineração”, tornando-se uma intervenção no núcleo do Arraial de São José da Lagoa que se desenvolveu em volta das lavras e gerando uma paisagem peculiar sobre a qual antigos moradores também deixaram as suas impressões, que chegaram aos dias de hoje através da tradição oral. De acordo com essas impressões, a marca dos serviços de mineração aqui ocorridos se encontravam de forma mais espetacular nos locais onde hoje se situam as ruas dos Bandeirantes, João Pinheiro e Governador Valadares, e também no Bairro da Estação, que se prolongava até a localidade de Figueira; e ainda que, para a lavagem do cascalho em alguns pontos onde hoje se localiza a sede do município, a água era capitada a aproximadamente 15 Km de distância.

Nas áreas periféricas, assim como nas demais, distantes da sede do município, este cenário de grandes extensões de terras baixas cobertas por uma infinidade de montes de cascalho que vistos de longe se assemelhavam a dunas se manteve intocável até a década de 60 do século XX, quando desapareceu em consequência da expansão urbana e, principalmente, devido à utilização do cascalho como matéria prima na pavimentação de estradas e também ao seu emprego nas indústrias siderúrgicas da região. Hoje estes vestígios são raros, mas as antigas denominações dos principais núcleos de mineração ainda permanecem: Figueira, Macacos, Pedra Furada, Piçarrão e Rio de Peixe.
Quanto à citação do Padre Júlio Engrácia sobre um documento que ele conhecia, do princípio do século XVIII, o mais antigo acerca do Arraial de São José da Lagoa que diz respeito ao “patrimônio legado ao Orago da Capela, que é hoje Matriz”, cabe ressaltar que até hoje só foram encontradas vagas referências a esse documento e que nenhuma informação sobre aquela primitiva Capela foi localizada. Tal Capela não se tornou Matriz conforme mencionado e a que foi preservada não é dos princípios do século XVIII já que sua edificação se deu por volta de 1753 pelos moradores do lugar, tendo sido o seu patrimônio constituído de terras doadas por “Domingo Francisco Cruz, morador na Passagem (hoje Bairro Santa Maria), da Freguesia de São Miguel do Piracicaba, Comarca de Sabará (...)” através de escritura pública lavrada em cartório no Arraial de Nossa Senhora da Conceição de Catas-Altas em 1754 e na qual é citada a doação de uma roça por ele adquirida do Alferes José de Miranda Ribeiro pela quantia de 250 oitavas de ouro para a construção da nova capela (Arquivo da Diocese de Itabira – Petição e Escritura de Doação que fez Domingos Francisco Cruz).
Sobre a antiguidade do Arraial de São José da Lagoa, Pedro Maciel Vidigal, em sua monografia (Da Fundação até a Proclamação da República; 1939), deixa sua contribuição – “Assim podemos afirmar que, quando D. João V subiu ao trono de Portugal em 1706, Lagoa já estava descoberta. Quando em 1720 foi fundada a Capitania de Minas, desmembrada do território paulista, já era núcleo de população bem regular”.
No livro “Pluto Brasiliensis”, capítulo 5º, parte 3ª, da grande obra do Barão de Eschwege – “Notas Geognósticas e Montanísticas sobre as Lavras de Ouro de Minas Gerais” – publicado na R.A.P.M/Ano II, pág. 632, volume IV – 1897, consta uma tabela de todas as lavras de ouro em atividade no ano de 1814 em cada distrito da Província de Minas Gerais. Nesta tabela, o Arraial de São José da Lagoa é contemplado com o registro de 4 lavras: a do Padre José Domingues, de Manoel Ribeiro da Fonseca, de Joaquim Ribeiro da Costa e a de Luciano José da Silva. Ainda nesta tabela é feita referência ao trabalho de grande vulto dos faiscadores livres.
Uma documentação existente no Arquivo Nacional (Rio de Janeiro) informa que a mineração aurífera em São José da Lagoa se manteve com bons resultados até os primeiros decênios do século XIX. E para o controle desta produção foi instalada nesse arraial uma Casa de Permuta – órgão criado a partir de 1803 para permutar ouro por moeda corrente; esse estabelecimento aqui se manteve em funcionamento até o ano de 1818 (Inventário da Coleção Casa dos Contos; livros 1700-1891/Coordenação de Caio C. Boschi, Carmem Moreno, Luciano Figueredo – Belo Horizonte: PUC Minas, FAPEMIG, 2006.
Em um texto anônimo sobre a cidade de Nova Era encontra-se o significativo registro de que, no ano de 1942, “no leito do Rio Piracicaba os faiscadores haurem mensalmente nada menos de 4 quilos do precioso metal”.
Em 1848 o Arraial de São José da Lagoa foi elevado a Paróquia e a distrito de Itabira. Emancipou-se politicamente em 1938 com a denominação de Presidente Vargas, instalado a 1º de janeiro de 1939. E a partir de 1942 passou a denominar-se Nova Era, porém tal mudança toponímica só foi confirmada em dezembro de 1943.
O município de Nova Era a partir da década de 1970 torna-se o território das tão cobiçadas esmeraldas, revivendo sagas ancestrais, gerando riquezas, tragédias e excluídos. Gemas que através dos séculos provocaram delírio e cobiça, que levaram Bandeiras e aventureiros a desbravarem os sertões das Geraes.
O poluído Rio Piracicaba que sinuosamente atravessa a cidade de Nova Era, traz as marcas da tricentenária ocupação inescrupulosa em todo o seu vale. Em seu leito até hoje garimpeiros solitários insistem em apurar pepitas douradas no fundo de suas bateias. Mas o testemunho de um tempo áureo permanece no brilho do ouro nos retábulos da Igreja Matriz de São José da Lagoa, sendo o seu retábulo-mor de autoria do conceituado entalhador e escultor Francisco Vieira Servas e o colateral, ao lado da epístola, que recebe uma curiosa subdivisão do camarim em dois níveis, talvez seja o único exemplar existente com esta característica.
Por esta síntese apresentada sustento que o município de Nova Era teve um primórdio comum aos demais do Ciclo do Ouro, ocupando lugar na história do Vale do Piracicaba.
Os pioneiros aqui instalados extraíram ouro em abundância e a tradição oral se encarregou de preservar as suas sagas, mitos, devoções e personagens. Deixaram lastros culturais que as novas gerações foram redimensionando nesta terra, edificando o arraial, depois distrito e por fim, cidade.


                           Um desses pioneiros, Domingos Francisco Cruz entrou para a história da cidade de Nova Era pelo ato exemplar, atitude de fé, edificando uma marca desta região que, desafiando o tempo, permanece: a igreja matriz de São José da Lagoa.