quinta-feira, 28 de maio de 2015

Carnaval em Nova Era


Elvécio Eustáquio da Silva
            Nas primeiras décadas do século XX, na cidade de Nova Era, as agremiações carnavalescas eram denominadas de rancho, dinamizavam a vida social de então, animados cordões pelas ruas do distrito, e cada um realizava o seu baile, com destaque para o Esperança e para o Operário,  motivados pela concorrência entre eles. Mas sobre estes ranchos pouco sabemos.
            A mais antiga informação escrita encontrada sobre o carnaval em Nova Era, está num livro, Canfora Uma História, escrito por Maria Canfora, comemorativo do Centenário da chegada da Família Canfora ao Brasil – 1897 a 1997. Neste livro, a passagem da família da autora por Nova Era se encontra registrada em detalhes, com destaque para os festejos carnavalescos que foram realizados nesta cidade no ano de 1921, quando ainda São José da Lagoa era distrito de Itabira. Nas páginas 38 a 40, emocionantes narrativas de uma grandiosa festa momesca idealizada e realizada pelo pai da autora, o italiano Alfredo Canfora, que soube interagir com a comunidade para a sua concretização. Entre os 11 filhos do Casal Alfredo Canfora e Isaura Donati, Maria Canfora, primogênita, portanto guardiã da memória da família.
            Para o conserto de uma ponte de madeira que se encontrava com partes arruinadas por falta de manutenção, Alfredo Canfora chegou a São José da Lagoa em 1918, vindo de Belo Horizonte, onde residia juntamente com seus familiares. Esta ponte, de nome Dona Amélia, tinha o comprimento de 118 metros. Em 1920 Alfredo transfere a sua família para São José da Lagoa e muitas amizades fizeram neste distrito. Em conversa com o empresário local Oscar de Araújo, Alfredo revelou ter atuado na montagem de carros alegóricos para o carnaval em Belo Horizonte. Descreve Maria Canfora: “na mesma hora os olhos do Sr. Oscar brilharam de satisfação e abrindo os braços falou com alegria: Alfredo, vamos mostrar a este povo o que é carnaval!” Alfredo que nunca sabia dizer não, topou na hora e, neste mesmo dia, começaram a fazer os planos para a grande festa que seria o Carnaval de 1921. A notícia correu não só aqui, mas em toda a região gerando grande expectativa. Muitas ações criativas e laboriosas foram desenvolvidas, algumas em absoluto segredo.
            “O teatrinho da cidade foi todo preparado com rigor para a realização dos bailes e matinês que foram animados pela Corporação Musical Flor de São José, comandada pelo maestro Alvim Vitorino”. É nesse teatro que aconteciam diversificadas atividades comunitárias, como também era lá que as Companhias Teatrais e de outras categorias artísticas que circulavam nesta região se apresentavam, entre outras, a Companhia Miramar.
            A grande atração deste carnaval foi o desfile dos carros alegóricos tendo à frente “uma cavalaria formada por jovens da cidade montados em cavalos ornamentados”, a seguir alas de jovens fantasiados.
            “O primeiro carro alegórico era formado por dois Cisnes Brancos puxando uma pequena carruagem... o seguinte era um enorme avestruz... em seguida, a grande sensação: um elefante, enorme,... Fechando o desfile vinha a maior sensação da noite: O Dragão! O corpo do animal era todo coberto por escamas... À meia noite, uma grande surpresa! Os fogos de artifício! Foi um espetáculo inesquecível!...”
            Através de um criativo e divertido boletim-convite tomamos conhecimento do carnaval aqui realizado em 1942, no já então emancipado distrito de São José da Lagoa, que passou a denominar-se Presidente Vargas. Anunciando bailes à fantasia e premiações diversas. Segundo o referido documento, essa festa aconteceu no cine local, mas que se tratava do mesmo teatrinho onde foram realizados os grandes bailes em 1921, que passou a funcionar também como cinema. Informou ainda que a renda seria em benefício da construção do hospital da cidade e não cita nomes da comissão organizadora.
            A revista Caminhos Gerais, edição especial Nova Era 3 séculos de história (nº 29 -março de 2012) , traz em sua página nº 55 uma foto do carnaval de 1950, “foliões comercialinos, Ercy, Matilde, Lídia, Maria do Realino e Marieta juntamente com o folião Epídio, exibindo as famosas lança-perfumes douradas”. Nas décadas de 40 a70 do século passado, foi que se consolidou em Nova Era o carnaval de rua e de salão. Época em que as Agremiações Sociais e Esportivas se encontravam no auge, a exemplo: o Automóvel Clube, o Comercial Futebol Clube, Minas Esporte Clube .
            As referidas instituições, em clima de rivalidade, promoviam concursos internos elegendo as suas rainhas e princesas, que com brilhantismo desfilavam pelas principais ruas da cidade em carros ricamente decorados, acompanhados por alas e em corso de alegres foliões fantasiados e cada agremiação com o seu conjunto musical. Os Blocos independentes e grupos irreverentes davam graça ao carnaval.
            As batalhas de serpentinas confetes e lança-perfumes, e os foliões fantasiados pelas ruas e bares também foram uma das marcas dos carnavais do período citado. As instituições em foco entraram em processo de decadência, os blocos em grande número foram diminuindo, e o prazer de fantasiar-se nos dias de carnaval foi se acabando e as marchinhas e o samba foram desaparecendo da cena carnavalesca.
            O carnaval em Nova Era, e certamente em muitas outras cidades mineiras, no decorrer de décadas, passou por várias fases, cada uma com as suas características. Na década de 70 a década de 90 do século passado, por influência dos meios de comunicação de massa, as Escolas de Samba, expressão cultural do Rio de Janeiro, proliferam-se por todo o interior do nosso Estado. A cidade de Nova Era passou a ter, anualmente, com direito a Rei Momo e Rainha, desfiles luxuosos de 4(quatro) escolas: Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Manjahy, ex Princesinha do Morro, Desce Ladeira, Acadêmicos do Sagrada Família e Unidos do Ladilá, que ano a ano se degradiavam numa disputa equivocada.
            O carnaval local ainda era enriquecido com bailes, matinês, blocos e grupos fantasiados, por último surgiu a Bandinha dos Farrapos fazendo grande sucesso, manifestações amplamente registrada pela mídia local e regional.
            Em 1994 as 4 escolas fizeram os seus últimos desfiles, deixando um lastro de conflito, e ainda, algumas levaram como troféu dívidas acumuladas, e assim saíram de cena. Como aqui, as Escolas de Samba foram desaparecendo nas pequenas cidades do nosso estado.
            Lideranças desmotivadas não tiveram projetos nem apoio para combater uma nova ameaça a nossa identidade, as expressões carnavalescas baianas, conectadas à indústria fonográfica e redes de tevê, com grande poder de influência e sedução, como os trios elétricos, bandas de Axé, em maioria meramente comercial sem nenhuma qualidade, mera banalização cultural, entre outras manifestações colonizadoras, provocando prejuízo identitário, anulando matrizes culturais e assim inibindo uma busca alternativa.     
          O Carnaval MPB na Rua Governador Valadares, que aqui é um diferencial permanece. Permanecendo também a Bandinha dos Farrapos e alguns remanescentes do Bloco Boca de Gole em trajes femininos. Os grupos fantasiados desapareceram e os bailes de salão já não tem sentido. Novos tempos!
            Não sabemos qual será a nova intervenção da mídia em nossa cultura para os próximos carnavais. Não podemos ficar na contramão da história, somos nós, nova-erenses, através de uma política cultural adequada, que temos de definir o rumo dos nossos próximos carnavais.
2013


            

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